terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Alguns pensamentos na situacao grega
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
The secretary of the Union of Housekeepers and Cleaners was attacked with sulfuric acid !
It is suspected that the attack is a punishment for her strong union activity. The Union is one of the most active workers’ unions within what euphemistically is called precarious labour: in other words, Konstantina is a migrant and a severely underpaid and unprotected worker, who decided to join a union in order to struggle against the inhuman conditions imposed to her and her fellow workers.
Behind the attack are her employers and their heavies, who have been threatening Konstantina and other women for their activity in the union.
Konstantina is one of us. Her struggle for dignity and solidarity is also our struggle.
The attack on Konstantina has left a mark in all our hearts. It has left a mark in our memory as have done the racist pogroms, the concentration camps for immigrants, the attacks by thugs working for the state, the workplace accidents, the people murdered by the state, the working conditions that resemble galleys, the purges, the lay-offs and the terror. All these show the long way ahead for the social and class struggle.
THE TERROR SHALL NOT PASS
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
Revolução e curtição no "bairro libertado"
Exarchia, o "bairro anarquista" de Atenas, ontem à meia-noite. Imaginem os bares do Bairro Alto, de Lisboa. Os de Exarchia são idênticos. Em grande quantidade, pequenos e muito animados, cheios de gente jovem e descontraída.
Mas, os destes quarteirões de Atenas têm, neste período muito conturbado da vida local, um ambiente especial. Os clientes gostam da farra, mas são muito politizados.
Às 23 horas, tinha havido uma nova cena da guerrilha habitual entre os "Koukoulofori" (os encapuzados) e a polícia. Os atenienses já se habituaram a essa banalidade das pedradas, das chamas dos cocktails-molotov, das explosões das bombas de gás lacrimogéneo, da pancadaria e das bastonadas.
O bar Delphis, no quarteirão de Navarino, continuou aberto durante os 45 minutos de duração do combate à sua porta. Também na noite da véspera, mantivera as portas abertas durante os violentíssimos combates que assolaram todo o bairro durante várias horas.
Enquanto na rua decorriam as explosões e bastonadas, no bar ouvia-se musica rock e jazz e continuava a beber-se muito álcool. Os jovens revoltados que passam depois da meia-noite à porta do bar são aplaudidos.
O Delphis é frequentado por jovens artistas, escritores e estudantes. "Vivemos aqui muito bem, este bairro sempre foi um espaço de liberdade", exclama Mira, uma artista plástica residente no quarteirão de pequenos prédios decrépitos, também nesse aspecto idêntico ao bairro lisboeta.
Os "Koukoulofori" não os incomodam? "Claro que não! Esta luta é necessária para o povo grego e para a Europa onde os ricos açambarcam tudo!", diz a simpática grega, morena e impetuosa, de 30 anos.
Ao lado, o namorado, Ilias, que tem a mesma idade e é desenhador num atelier de arquitectos, está com ar cansado. Na véspera "andou na guerra", como diz. "Acertei nos polícias com algumas pedras", gaba-se. Terminara a noite - "a curtir", sublinha - no Pireu, na periferia de Atenas, às 7 da manhã de domingo, ouvindo Lou Reed, Radiohead e Brad Meldau, em casa de amigos. Bebe cerveja, tal como a namorada. Um comentário sobre o ambiente ligeiramente insurreccional de Atenas? "Tudo está a bater certo, meu", responde Ilias.
"Bairro do amor"
Estamos a poucas centenas de metros da escola Politécnica, o quartel-general dos revoltados de Atenas, ocupada por 500 guerrilheiros urbanos. Não se sente uma ponta de stress, a esta hora, apesar dos combates de há alguns minutos.
A "revolução" é uma festa para estes jovens residentes do bairro. "Já reparaste?", pergunta-me Mira. "Não há patrulhas da polícia nas ruas, o bairro é nosso!", exclama, com um franco sorriso.
Mira está visivelmente com mais sede do que Ilias. E oferece-me um "raki" - "aqui bebe-se um verdadeiro raki e é barato!". Tudo de facto é muito mais barato em Exarchia do que no resto da cidade, onde os preços nos cafés e restaurantes do centro são inabordáveis - 2,8 euros um café, 20 euros uma sandes e uma cerveja no Public, na praça Syntagama, em frente ao Parlamento. O raki é de facto saboroso - e forte. 1,5 euros cada, pagou Mira.
A artista tem razão. De facto, as forças da ordem não ousam andar nas ruas de Exarxia. Nem de dia nem de noite. Só se vêem, às centenas, quando rebentam confrontos, o que acontece com uma frequência estonteante.
Nos restantes bairros de Atenas, verifica-se o contrário. Em todo o lado há imensas patrulhas da polícia, em todos cantos da cidade se vêem agentes anti-motim. As forças policiais de Atenas estão em pé de guerra desde o dia 6, quando um dos seus agentes abateu um jovem de 15 anos a tiro, exactamente aqui, no quarteirão de Navarino, em Exarchia.
Durante a guerra de sábado à noite, os "Koukoulofori" atacaram o "bunker" que é o posto da polícia do "bairro libertado" e alguns bancos noutros locais da cidade. "Vamos conseguir fechar o posto do nosso bairro", promete Ilias.
Os jovens de Exarchia sonham com uma vida sem polícia nem prisões, com uma espécie de "bairro do amor" na versão do cantor português Jorge Palma. Ilias e Mira gostam da geração beat dos anos 60. Lêem Jack Kerouak e ouvem Bob Dylan.
Não são anarquistas. Mas preferem a "lei" imposta pelos amotinados da Politécnica do que a do Estado. Mantêm contudo algum realismo. "Vamos ver se isto dura", suspira Mira. Por volta da 1h30 de hoje saem abraçados para a rua e desaparecem no meio da multidão amiga dos revolucionários que circula vagarosamente em Exarchia, onde se dorme muito pouco durante a noite.
"Isto", segundo Mira e Ilias, é a vida de revolução e festa dos dias e noites de hoje no "bairro libertado", mais conhecido em Atenas pelo nome de "bairro anarquista".
Daniel Ribeiro, Segunda-feira, 15 de Dez de 2008, Expresso
http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/478663
Noite de guerra no 'bairro anarquista'
Exarchia, o "bairro anarquista" de Atenas, sábado, 19 horas. A tensão é perceptível na praceta onde foi mortalmente baleado pela polícia, há nove dias, o jovem Alexis, de 15 anos.
Os repórteres de imagem e de som são indesejáveis no local. Quatro franceses, dois da Rádio France e dois fotógrafos, são expulsos a pontapé por dois miúdos de 20 anos vestidos a rigor com a já tradicional farda dos novo guerrilheiros urbanos de Atenas - blusão escuro com capuz, grandes lenços ao pescoço, jeans e sapatilhas.
No chão e na parede de um prédio devoluto estão flores, velas e centenas de mensagens de mágoa e de revolta. Dezenas de jovens com ar mais banal prestam homenagem, emocionados até às lágrimas, ao que chamam o "mártir da revolução grega". Abalados, aprovam o ataque aos jornalistas. "Eles são colaboradores da polícia, que nos identifica devido às imagens e ao som da voz", acusam.
O Expresso pode ficar. A caneta e o papel não os assustam. Paulo Dentinho, da RTP, nem chega a tirar a máquina do saco, não pode trabalhar e sai do bairro. Não arrisca que lhe destruam mais uma câmara, como aconteceu na quarta-feira passada. Voltará depois das 22h, protegido pela polícia anti-motim, como todos os colegas da televisão.
Às 20h, já está uma multidão imensa e compacta na praceta, vigiada por um ballet incessante de helicópteros e, certamente, também por agentes disfarçados de revolucionários infiltrados no movimento. Às 21h, há tanta gente em redor da praceta que os jovens transbordam para as ruelas adjacentes. O bairro - mais extenso do que, por exemplo, o Bairro Alto, de Lisboa - está repleto de rapazes e raparigas que gritam, encolerizados: "Policia assassina!".
No quartel-general dos revoltados, na vastíssima escola Politécnica, antigo quartel militar das tropas no tempo da ditadura grega, os "Koukoulofori" - encapuzados - acendem fogueiras no pátio. Parecem dançar à volta delas, como num ritual tribal de preparação para um combate. Nos portões gradeados de ferro está estampado um cartaz preto com um gigantesco A, de anarquia.
Às 22h, caiem as primeiras saraivadas de bombas de gás lacrimogéneo em todo o bairro. Gás fortíssimo, apimentado, muito mais forte do que o utilizado nas cenas de guerrilha dos últimos dias nas zonas mais chiques da cidade. Literalmente asfixiada, toda a gente foge para onde pode. Nuvens espessas de fumo envolvem o casario. Batalhões de centenas e centenas de politicas anti-motim posicionam-se em todas as entradas do bairro.
Atmosfera insurreccional
Os "Koukoulofori" tomam conta da situação nos quarteirões. São ateadas fogueiras em todas as ruas e esquinas. O ruído das rajadas das bombas de gás que continuam a cair sem parar e das pancadas das barras de ferro dos "guerrilheiros" contra as cortinas de ferro das lojas comerciais é ensurdecedor. A polícia é atacada à pedrada e com 'cocktails-molotov'. Milhares de pedras e de bombas caseiras, estas últimas fabricadas no quartel-general durante o dia, caiem sobre os agentes fardados de verde-azeitona, como os militares. Jovens sem capuz também participam e arremessam com tudo o que encontram à mão - grades, paus, placas de alumínio, pedras...
Raquel Morão Lopes, da Antena 1, regista com cautela, o som da batalha com o gravador escondido no saco.
Às 23h, a policia investe o interior do bairro com centenas de polícias, de bastões ao alto, a carregarem em passo de corrida sobre quem encontram pelo caminho. Correrias de pânico, gritarias, num banzé indescritível. Será assim até ao nascer do dia.
Esta manhã, às 9h, Exarxia é um imenso campo de batalha. Vêem-se destroços da devastadora batalha por todo o lado. Ainda não há balanços oficiais - o número de feridos é indeterminado e a polícia apenas confirma dezenas de detenções.
No "bunker" dos revoltados de Atenas, na escola Politécnica, os guardas de serviço, não me deixam entrar. Vagélis, 20 anos e chefe da guarda, que me facultara a entrada nos últimos dois dias, é simpático e, apesar da recusa, pede desculpa. "Tenho ordens", diz. A letra A continua grudada ao portão. No interior, permanecerão amotinados cerca de 500 "Koukoulofori".
Atenas acaba de viver a noite da sua mais dura batalha desde o início da actual vaga de violência, no passado dia 6. A escalada do combate subiu a noite passada uns largos pontos e, em Exarxia, hoje de manhã, os residentes estão a acordar numa atmosfera insurreccional.
"O que querem vocês?", pergunta o Expresso. "A revolução!", responde Vagélis, de 20 anos.
Daniel Ribeiro, Domingo, 14 de Dez de 2008, Expresso
http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/478108
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Boletim da Segunda feira
- O governo continua sua política. Aterroriza as pessoas aprisionando-as sem motivo. Quer quebrar o direito de asilo nas universidades (direito adquirido nos anos setenta após vários estudantes serem mortos pela polícia). Hoje o primeiro ministro disse: "Ninguém sabe quanto negativo pode ser o efeito da crise económica".
- Manifestações em frente dos tribunais para pedir a libertação dos presos.
- Manifestação e concerto fora do politécnico para apoiar a ocupação.
Tragédia grega encenada em Portugal?
Para Portugal, como já avisou a SEDES, os confrontos nas ruas de Atenas devem servir de aviso sério para os efeitos da crise.
Na China, há neste momento 118 homens para cada 100 mulheres e os demógrafos estimam que, em 2030, haja 30 milhões de homens sem hipóteses no mercado emocional chinês. Em Pequim, o Governo tem muito medo destes números e já começou a alterar a chamada política do filho único para tentar inverter a tendência. E o que tem isto a ver com os confrontos entre estudantes e a polícia, que paralisaram a Grécia, causando dezenas de feridos e mais de 1,8 mil milhões de euros em prejuízos?
Pequim sabe a resposta que a Europa, no conforto relativo até aqui providenciado pelo Estado Social, começa a assimilar. Pessoas sem nada a perder são matéria facilmente combustível, que precisa só de um rastilho para explodir.
Na Grécia – onde ontem ainda continuavam os confrontos – todos procuram explicações. Os milhares de estudantes que estão a batalhar nas ruas – aos quais se somaram pessoas de todos os caminhos da vida – não são marginais que habitam lugares subterrâneos da sociedade grega. São pessoas normais, daquelas que estão nos cafés durante do dia, que vivem na casa de classe média dos pais, que estudam na universidade. O que esta massa quer, explicam os sociólogos, é ventilar a sua raiva contra um sistema muito polarizado, baseado numa implacável cultura de sucesso e de consumo, que não lhes oferece qualquer saída para o futuro.
Para Portugal, preso a uma crise económica há seis anos, a situação grega deve servir de aviso sério – como já avisou a SEDES, presidida por Campos e Cunha – para os efeitos que essa mesma crise tem nas motivações e na vida de milhares de pessoas.
É certo que, na Grécia, o espírito de rebelião faz parte da mitologia estudantil, desde a queda da ditadura militar em 1974 – os movimentos universitários portugueses (existem?), assim como os sociais, são bem mais dóceis. Por outro lado, como explica o economista João César das Neves, para estalar uma crise como a grega é preciso haver um “descontentamento endémico”, sendo que em Portugal há apenas “desânimo endémico”, sem força e ideologia definida.
A situação portuguesa revela, contudo, marcas que muitos (incluindo o Governo) preferem não ver. O mercado de trabalho fechou as portas aos cursos universitários que se multiplicaram como cogumelos, o Estado deixou de cumprir a promessa de emprego fácil e a empatia entre cidadãos e poder político nunca foi tão baixa. A sociedade portuguesa é cada vez mais dual – para cada Magalhães e história de “sucesso” há uma faixa cada vez maior de jovens zangados, presos às esmolas do Estado, aos recibos verdes ou aos salários de 600 euros – pessoas que se sentem enganadas e que têm cada vez menos a perder. Manter um discurso político baseado na ilusão e remeter estas pessoas para um plano de invisibilidade social é um erro que, mais tarde ou mais cedo, poderá sair bem caro.
Bruno Faria Lopes, Editor de Economia, diario economico 19/12/2008
Bolletim da sexta feira
- Atenas. O grande concerto foi um êxito embora a polícia ter tentado espalhar as falsas notícias de distruções a acontecerem na área e de uma bomba posta num prédio da praça central. O concerto començou às 17 e continuou até as 2.
O concerto
- Monolis Glezos, um homem muito respectado e conhecido por ter tirado a bandeira nazista da acrópole durante a resistência à ocupação de Atenas, na segunda guerra mundial; afirmou claramente que: "O que está a acontecer nos últimos dias é uma resistência guiada pela joventude". Declarou-se também orgulhado pelas faixas postas na acrópole na quinta feira.
- Cada dia a polícia continua provocar os manifestantes para crearem disrtuições e serem mais violentos; enquanto segue aprisionar pessoas sem motivações reais. Novas filmagens e fotos mostram a cooperação entre polícias e "extremistas" de caras tapadas.
- Várias pessoas de Atenas decidiram deitar seu lixo ao pé da grande árvore de Natal da praça central, guardada ininterruptamente por polícias.
- Houve uma manifestação de professores universitários de manhã e uma dos trabalhadores em Atenas.
- Uma televisão local foi ocupada na Ilha de Creta.
- Cada noite, há pessoas a juntar-se para protestar em silêncio em frente do parlamento.
- Há cerca de 700 escolas ocupadas e 140 universidades (enquanto o ministério da educação fala só em 140 escolas e umas universidades).
- Uma anti-festa de Natal foi organizada no bairro mais rico do centro de Atenas.
- Projeções em vários lugares públicos em Tessalónica.
- Segunda feira vai haver o primeiro encontro para procurar novas maneiras para uma comunicação social independente.