quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Uma carta de Atenas

Transcrevemos aqui a tradução da carta dum amigo italiano de Atenas, P. C., chegada hoje.

11/12/08

Olá pa..
É um prazer receber tuas notícias.. tudo bem?
Recebi a tua mensagem (sms) mas era impossível responder em pouco mais de 100 letras...Ora, come já sabes a situação aqui está tensa, mesmo se agora está um pouco a acalmar-se.
Desde o dia que cheguei explodiu uma revolta popular depois do homicídio dom rapazinho pela polícia no bairro anarquista (Exarchia) onde poracaso eu divagava sem meta.
a partir daquela noite os choques foram intensificando-se assim como as reacções da polícia e agora também das esquadras fascistas.
a situação precipitou completamente há dois dias quando por meio de acções de força e gases especiais a polícia conseguiu dispersar a multidão. As pessoas em fuga perderam os contactos com amigos e parentes, a revolta espalhou-se como uma macha de azeite (=ainda mais). Eu estive em diversas batalhas desde o princípio e distingui-me na defesa duma escola secundária e no assédio da universidade politécnica, a situção está... indescritível,
depois dos choques da outra noite as pessoas começaram a saquear, não posso ir ao trabalho, fiquei bloqueiado na universidade politécnica um dia inteiro, só consegui escapar há dois dias quando os anarquicos foram forçados abandonar as barricadas na Exarchia. encontrei-me sozinho e consegui voltar a casa. Hoje estou melhor, o bairro onde estou está suficientemente tranquilo e longe dos choques... logo que encontrar o tempo faço-te um relato das coisas incríveis que aconteceram desde sexta até hoje.. parece-me ser um jornalista de guerra, nem imaginas, é pena não ter conseguido tirar fotos aos saqueios pois é perigoso, mas tenho umas, se conseguir vou tas enviar. A última noite fartei-me de vomitar por causa da tensão, dos fumos dos incéndios que rodeiam a cidade e sobretudo dos fortíssimos gases lagrimogéneos que quemam os pulmões, o nariz, os olhos e torcem-te o estómago...o inizial entusiasmo transformou-se em cansasso pela maior parte das pessoas, a cidade está paralizada há quase uma semana, mas em muitos pontos já se começa a reconstruir (excepto os lugares quentes: universidade politécnica, exarchia...) mesmo se de vez em quando se acendem novos fogos de revolta.
Eu "estive a curtir" mas nem assim como os gregos todos que gozaram imenso ao ver a sua capital feita aos pedaços, das montras aos pormenores em mármore, foi destruido tudo, no princípio com objectívos escolhidos, políticos (no sentido de objectivos governamentais ou capitalistas) ou seja logísticos no sentido de arranjar pedras e bastões... e assim para frente... depois com qualquer meio cada vez mais degenerado até o puro caos.. não imaginas...

(Pedimos desculpa por eventuais erros de tradução mas não tivemos tempo para uma revisão)

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